Na trilha para cachoeira do rasgão, em Corumbá. |
Não que eu vá dizer aqui o que me levou a Goiânia, embora você possa pensar em duas opções: terrestre e aérea, mas deixo a serviço de quem lê. Certo é que, em toda minha vida o meu único interesse no estado era, logicamente, ver uma partida de futebol no Serra Dourada. Sem saber, é claro, se isso realmente aconteceria. Ocorre que, de um tempo para cá, o marcante campo deixou de ser figura na tevê nos jogos dos times de Goiás, antes vista corriqueira nos gols da rodada, a casa do futebol goiano é hoje espaço para um monte de coisa, mas acho que não para futebol. Enfim, fui ao Goiás.
Goiânia: no inverno brasileiro, a loucura desse país, cheguei numa capital deveras abafada, quente, como se não pudesse haver felicidade com tamanho calor. Verdadeiramente insuportável. Do aeroporto ao hotel, um uber conversador. Até chegarmos no papo de bola. É incrível, sobretudo, a memória futeboleira. Ao conversamos sobre os estádios, lembrei do olímpico e do pitoresco fato no jogo que o Palmeiras venceu o Atlético quando um torcedor levou um porco para a arquibancada. Ele afirmou que apareceu no vídeo. O que confirmo ser verdade pois revi a imagem horas depois, já no hotel.
Houve aqui também uma pequena confusão. O uber mandou nos mandou para uma rua 6, quando na verdade buscávamos outra rua 6. Ouvi todo esse tempo que preguiçoso era o cara que desenhou a bandeira do Japão. Mas o que dizer de Goiânia que tem milhões de ruas seis, diferenciando o que nós conhecemos por bairro pelo singelo nome de: setor. Levou ao setor oeste, quando o hotel era no setor aeroporto. Era só um cartão de apresentação a uma Goiânia meio louca. Não recomendo e aviso desde já.
Ei, Goiânia: No primeiro dia, fui ao Beco da Codorna, uma espécie de Beco do Batman do Centro Oeste. Lá, vários grafites dom o tom de um lugar que outrora fora relegado a estacionamento, essa doença endêmica nos grandes centros brasileiros - quando não é estacionamento, é prédio, aqueles condomínios meio insossos que tomaram conta de tudo.. Volto aqui pra falar disso depois. Ganhou outro objetivo que, parece, ser lugar de festas modernas de rua, com uma diversidade grande de gente, reunindo tribos que são essencialmente livres. A noite, a pedida foi seguir a dica de um perfil local e experimentar um rodízio que incluía tudo por oitenta reais. Demoraram a acertar o ponto da carne, mas de resto, estava muito gostoso. O atendimento é bom e eles têm uma missão bem legal. Só é um pouco longe do centro. Goiânia, nem assim pra se ajudar, tem as coisas muito longe uma das outras. Ah, o local chama-se The Billas. No dia seguinte deu pra curtir o Zoológico da cidade, uma guerra pra conseguir os dois e cinquenta para pagar a meia entrada. Pagaria os cinco numa boa, mas a guerra envolveu conseguir o dinheiro, uma vez que o único meio de pagamento do local é dinheiro... Zeróis da resistência. Antes, no parque que antecede o espaço, deu pra ver alguns macacos na santa paz do senhor nas árvores. Bem de pertinho. O zoológico embora pareça pequeno, é bem grande e tem uma quantidade grande de animais. O espaço, no entanto, parece pouco adequado. Foi a primeira vez que vi um leão rugindo, mas confesso que parecia ser mais um rugido de dor que de qualquer outra coisa.
A cachoeira que da nome ao parque. |
Piri, como é chamada pelos moradores |
Pirenópolis: Do salto a Pirenópolis, uma pequena cidade perto dali. Me pareceu o que os americanos chamam de Tourist Trap, isso pq a cidade segue o padrão da maioria do estado: tem um atendimento péssimo. Ao primeiro olhado, é um lugar deveras aconchegante. A hospedagem idem. Uma senhora muito atenciosa fugiu o padrão de atendimento que fora visto até ali, mas em todos esses dias, pude contar no dedo onde fui bem atendido. O preço é deveras elevado e a principal atração noturna da cidade me parece um pouco sem personalidade suficiente. É um ideal do tipo Paraty, longe da costa, no entanto. Mas vale a visita. Vá com dinheiro. Da cidade, me chamou atenção a História do Mascarado, personagem forte da cultura local quando nos festejos das Cavalhadas. Por fim, a cidade é polo de hospedagem graças ao grande número de cachoeiras que a rodeiam. Quando tentamos acessar uma, no entanto, nos deparamos com uma estrada deveras acidentada e que nos impossibilitou de seguir. É preciso um carro grande e, quiçá, com tração integral.
O mascarado |
Parque Estadual dos Pirineus: Frustrados por não conseguir acessar as cachoeiras, rumamos ao parque. Vivíamos a expectativa de ver algumas cidades, Brasília inclusa, de uma montanha no Parque. O lugar pareceu, por muito, abandonado. Mas é verdade que ao chegar no ponto de maior interesse, havia uma guarita de guardas. O Pico dos Pirineus é realmente muito bonito e com uma visão incrível, já que trata-se de uma região bem plana, avistamos, na verdade, três cidades. A estrada é de terra mas facilmente acessada por carros mais simples.
Brasília: Sem querer tocar na capital, mas vê-la, fomos a Brasília. Já era noite quando chegamos na cidade e pouco fizemos. No dia seguinte, alugamos a bici do banco e rodamos a vera. De bike ao Mané Garrincha e visita proibida graças a um congresso universitário. Seguimos pelo eixo monumental até parar na catedral. Já havia visto a possibilidade de visitar os prédios do governo. Visitar, quero dizer, não só pela parte externa, mas fazer a visita guiada. Ficamos esperando, claro, para entrar no congresso. Lá, fomos guiado pelo excelente Vinicius, que nos contou sobre a cultura da cidade de Brasília, das casas legislativas brasileiras e um tanto de coisa legal.
Serviu, claro, para esclarecer o que parecia muito óbvio: é o expoente máximo do que é segregação. A cidade que nasceu para segregar. Brasília é, como ele disse, só o Plano Piloto, o resto é "acidente". Pega a bici de novo e vai até a praça dos três poderes. Almoço, é claro, e depois conseguimos pegar um evento no Sesi Lab, pertinho da rodoviária. Voltamos pro hostel e ainda deu pra sair a noite. No domingo, fomos almoçar na margem do Paranoá, e depois voltamos a Goiânia.
Goiânia, de novo: Procurando um lugar para comer no domingo, caímos numa pizzaria. Contrariando o padrão local, fomos muito bem atendidos no local. A pizzaria artesanal está localizada num casarão que tem, quase a idade da cidade. Com visitação possível a todos os cômodos, quando abertos. Lá, a funcionária mais atenciosa nos contou a história e disse o óbvio: o local é resistência em meio aos prédios da rua. Querem por a mais b, por o casarão no chão e erguer mais uma torre... ou um estacionamento. O local é deveras aconchegante e o atendimento é dez. Vale a visita.
No dia seguinte, alguns planos frustrados, mudamos o roteiro. Era a chance de tentar, de novo, ver o Serra Dourada. Isto é, quando chegamos em Goiânia, a bonita ligou na administração do estádio mais foi informada de que, para visita, era preciso enviar oficio, já que o equipamento tinha recebido um festival no fim de semana anterior e estavam desmontando tudo. Quase uma semana depois, ainda era preciso o bendito ofício. Teimoso que sou, resolvi passar com o carro na frente do estádio. Fui, então, incentivado a "cair pra dentro" até onde dava. Com o estacionamento aberto, parei em frente a uma das bilheterias. Hora de almoço dos funcionários que faziam o desmonte. Começamos a pensar um jeito de entrar. Quando percebemos o portão amarrado só por uma cordinha e o fraco movimento dada a hora, já nos entreolhamos como quem sabia o que ia fazer.
Por onde for, futebol: Férias futeboleira é um capitulo que, me parece, encerrou-se por definitivo. Mas fiz bom proveito enquanto durou. Isso não impede, lógico, de caçar partidas em um destino de viagem. Em Goiânia, optei pela partida Goiás x Atlético Mineiro, na Serrinha. Jamais pensei que conheceria o estádio, tampouco sonhava em conhece-lo. Foi de ocasião, mesmo. E que bom. Uma pequena pausa antes para o café num lugar que, quebrando também o padrão, fomos bem atendidos. O carro parado a duas quadras do estádio. Não fosse a caminhada de um grande número de torcedores em uma só direção, não dava pra dizer que teria uma partida do mais alto escalão do futebol brasileiro acontecendo ali. Os prédios engolem o campo e as luzes do estádio. Não há excesso de carros ao redor.
Seguindo o fluxo, compramos uma faixinha pra ficar de lembrança. Como se possível fosse, a bonita ficou ainda mais gata ao usar a faixa como adorno. Eu... bom, eu tava muito feliz. Por conhecer mais uma torcida e estádio e por te-la lá comigo, e te-la empolgada e não como quem o faz por puro protocolo.
Embora bem organizada as filas, é preciso dizer que o estádio carece de informação sobre o número dos portões, que não estão sinalizados. O ingresso foi comprado online com certo transtorno. Precisa do maldito reconhecimento facial que, no frigir dos ovos, sequer fez-se necessário. Tivemos que dar uma volta no campo para achar nosso lugar. A entrada dos visitantes aconteceu tranquila, todos transitavam entre as barracas: locais e visitantes.
Achamos nosso portão e tomamos nosso lugar no setor família. Todos ali, assistem sentados. Mas arrumei um jeito e assisti todo o primeiro tempo do jeito que gosto: de pé e observando a torcida. Gostei do que vi. É relativamente razoável o repertório da torcida goiana, mas que mantém-se cantando por toda a partida e faz bom uso do bandeirão. Cerveja com álcool lá é permitida ao custo de R$7 o copo. Por ser setor família, muitas crianças no local acompanhavam os pais no programaço de segunda a noite: um zero a zero medonho.
E foi isso. No dia seguinte, já voltei pra casa. De Goiânia levo a impressão de um lugar extremamente abafado, pouco convidativo a turistas e com um serviço péssimo. Salto do Corumbá é um lugar deveras legal. Ponto alto da viagem e uma das atividades de férias mais gostosas que já fiz, há, nesse quesito, mais que só o local, é claro, mas não vem ao caso. Houve pouco tempo para conhecer Pirenópolis, que pareceu agradável aos olhos para uma só noite, mas extramente cara e de atendimento ruim. Se está com carro baixo, a cidade não é uma boa pedida, uma vez que serve de dormitório para visita as cachoeiras da região. Brasília, bem, é legal, plano piloto, música do legião urbana e etc. principalmente pq conheci, desta vez, todos os prédios do governo, e fiz o tour no congresso. A viagem, de modo geral, foi legal pra caralho. Por todos os momentos vividos e lugares visitados, mas, principalmente, por estar com quem estava.
Estrada até Corumbá. aurora no cerrado |
Até mais!
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